A Lei de Inclusão Social, aprovada em 2004, obriga as empresas com mais de 100 funcionários a destinar de 2% a 5% das vagas para Pessoas com Deficiência (PCD), o que garante também isenção de taxas. A pergunta que fica é o motivo pelo qual as empresas não cumprem, sabendo que é uma Lei e deveria ser cumprida sem qualquer impedimento?
Podemos citar alguns motivos pelo qual dificulta a inserção da PCD, em primeiro lugar está o preconceito, ainda enraizado na sociedade. Além disso, o ambiente de trabalho não adaptados conforme à necessidade de cada deficiência; falta de rampas e portas adaptadas para a passagem de cadeiras de rodas; dificuldades de adaptação na área de comunicação; profissionais não qualificados para receberem pessoas cegas e/ou com baixa visão, surdas, entre outras. Por estes motivos ou, aliás, dificuldades, muitas pessoas desistem da busca de emprego.
Vale ressaltar que todo questionamento tem início na educação escolar da pessoa com deficiência. Na minha época, minha mãe lutou muito para que eu estudasse e na empresa que ela trabalhava havia incentivo para educação dos filhos até os 24 anos, se este já estivesse na faculdade, mas para filhos com alguma deficiência, só tinham direito até o primeiro grau, ou, como eu interpreto, era até onde consideravam que todos podiam chegar. E com toda sua luta, só cheguei ao terceiro grau estudando em escola particular, e quem me auxiliava era a minha própria família.
Hoje avançamos muito, mas muito ainda falta a ser feito e a maior mudança deve ser olhada para a educação escolar, escolas adaptadas, escolas públicas e particulares com profissionais capacitados, sem limites de vagas, lazer, entretenimento, palestras, profissionais multidisciplinares onde o aluno sinta-se estimulado a aprender e buscar seu objetivo em querer avançar nos estudos e fazer parte da sociedade, é o que está previsto na Lei 13.146. Não queremos só a inserção no mercado de trabalho, queremos respeito, condições de acessibilidades, práticas mais inclusivas, mudança de postura e a conscientização empresarial para que cada vez mais pessoas com deficiência estejam inseridas na sociedade e não apenas com o objetivo de cumprimento da Lei.
Para falar e entender o assunto, convidei a Assistente Social da APAE Belém, Carolina Salomão, para falar um pouco sobre o seu trabalho e a sua percepção.
PERGUNTA: Como ocorre a inserção da PCD no mercado de trabalho?
ANA CAROLINA SALOMÃO: Na APAE tem o programa de apoio, emprego e renda. Antes ocorre o apoio à família, com os desafios de aceitação da família. Em alguns casos, o usuário está disposto a querer trabalhar, mas a família impede. Faz-se o empoderamento, orientação para garantir autonomia e protagonismo. Depois é feito o encaminhamento para o programa, que é atendido por uma psicóloga que faz avaliação e entrevista com eles. O levantamento de vagas é de acordo com o perfil de cada usuário.
PERGUNTA: As pessoas sem deficiência vão saber lidar?
ANA CAROLINA SALOMÃO: A psicóloga faz a articulação com a empresa para apresentar o perfil do atendido, de acordo com as limitações que tem e faz a orientação e/ou adaptação para a inserção da pessoa com deficiência na empresa.
PERGUNTA: Quais as maiores dificuldades?
ANA CAROLINA SALOMÃO: as empresas destinam a maioria das vagas para pessoas com algum tipo de deficiência física, a maior dificuldade é que a gente consiga inserir pessoas com deficiência intelectual, devido a leituras, escrita e nível de escolaridade. Mas estamos, constantemente, orientando e conscientizando as empresas, de que é necessário focar na potencialidade.
PERGUNTA: As empresas têm os recursos?
ANA CAROLINA SALOMÃO: as empresas precisam se preparar para um novo formato de integração e inserção. Existe uma lei que exige até 5% do total de funcionários com deficiência, as empresas só precisam cumprir a lei e se preparar para o novo formato de integração e inserção.
PERGUNTA: Qual o papel da assistência nesse processo?
ANA CAROLINA SALOMÃO: Apoiar a família e garantir que o usuário tenha o direito atendido. Autonomia, protagonismo, autogestão. Fortalecimento de vínculos familiares. Acompanhar e preparar a família.
Um ambiente de trabalho inclusivo deve saber aceitar todas as diferentes situações em que as pessoas estão inseridas, seja alguma deficiência, bem como idade, gênero, etnia, escolaridade e classe social.
Samantha Araújo
Jornalista