Falar de uma pessoa com Síndrome de Down, deficiência auditiva, física, intelectual ou com qualquer outra deficiência nos exige muito cuidado não só nas palavras, mas no olhar cuidadoso e atencioso as características que possuem, não digo somente no caráter físico, mas no comportamento, sentimento e, principalmente, na superação de vida.
O nosso trabalho enquanto porta voz (Jornalista) é, além de observar, se envolver no contexto das nossas vidas e conclusões. Eu, Samantha, sou uma mulher com baixa visão e por muito tempo fui impedida de fazer certas atividades e, até mesmo, de cursar braile por não ser considerada na época "deficiente" porque enxergava, essa e outras dificuldades pessoas com deficiência passam todos os dias. Há um sentimento de gratidão à família e amigos que sempre nos incentivam e estimulam nos dias que achamos que não vamos conseguir.
Existe um sentimento chamado empatia, que nos coloca em evidência quando uma pessoa sem deficiência convive conosco ao ponto de olhar profundamente e perceber que não somos tão limitados, que podemos ser excelentes profissionais, estudantes, cozinheiros, modelos, professores e outras profissões. Sabemos que a vida nos proporciona diversas oportunidades e a pessoa com deficiência sabe aproveitar cada uma delas, a facilidade de fazer amizades é uma prova disso, conversar, dá aquela boa risada e falar sobre a vida nos faz colocar a superação sempre acima da dificuldade, porque somos cientes do quanto é desafiador a realidade que vivemos.
Infelizmente a estrutura física da cidade em que vivemos não nos oferece a acessibilidade que precisamos para nos locomover enquanto cidadãos moradores, bem como as políticas voltadas para a pessoa com deficiência não é levada tão a sério quanto deveria. A baixa representatividade nos devidos espaços de diálogo voltadas à pessoa com deficiência é a causa de muitos isolamentos. A falta de rampas nas calçadas, ônibus sem adaptação para pessoas com mobilidade reduzida, a ausência de sinalização sonora e a inexistência de libras em espaços públicos são apenas algumas ferramentas que impedem a utilização plena das pessoas com deficiência nas cidades.
A falta de acessibilidade na cidade é o grande motivo que não me permite andar sozinha, o que faz meus familiares me acompanharem por questão de segurança. A acessibilidade nas ruas e o transporte públicos em Belém é um desafio imenso para a população com deficiência. Com toda a legislação vigente, Lei 7.853/89 e Decreto 3298/99, as calçadas nas empresas, lojas, shoppings, escolas, faculdades ainda são insatisfatórias. A Lei Municipal 8068/01, no CAPÍTULO III diz que:
Art. 8º Os sinais de tráfego, semáforos, postes de iluminação ou quaisquer outros elementos verticais de sinalização que devam ser instalados em itinerário ou espaço de acesso para pedestres deverão ser dispostos de forma a não dificultar ou impedir a circulação, e de modo a que possam ser utilizados com a máxima comodidade.
Art. 9º Os semáforos para pedestres instalados nas vias públicas deverão estar equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem estridência, ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientação para a travessia de pessoas portadoras de deficiência visual, se a intensidade do fluxo de veículos e a periculosidade da via assim determinarem.
Art. 10 - Os elementos do mobiliário urbano deverão ser projetados e instalados em locais que permitam sejam eles utilizados pelas pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Na nossa cidade, foram criados alguns espaços de acessibilidade, mas foram destruídos com o tempo, seja por falta de manutenção ou vandalismo. É necessário resgatar políticas, de maneira nacional, para a integração da pessoa com deficiência.